sexta-feira, 28 de maio de 2010

Adelaide Molinari

IRMÃ ADELAIDE MOLINARI


O casal Salvador e Cecília Letícia Molinari tiveram 11 filhos. Era uma família de agricultores, pobre e muito religiosa, descendente de imigrantes italianos. Morava no interior do Município de Garibaldi, RS, numa comunidade chamada Linha Azevedo Castro. Tiveram 11 filhos. No dia 02 de fevereiro de 1938 nasceu sua 3ª filha a quem no Batismo, no dia 17 de fevereiro, deram o nome de Lourdes. Quando esta era ainda criança a família mudou-se para o interior do município de Palmeira das Missões, RS, localidade denominada São Pedro, em busca de melhores condições de vida.
Em 1946, no dia 16 de outubro Lourdes fez a sua Primeira Eucaristia, na Igreja de Sarandi, RS. Era uma menina tímida, mas estudiosa e alegre.
Foi pelos 14 anos, quando Lourdes participava de Santas Missões e o Padre falou à juventude sobre Vocação que ela manifestou o desejo de ser Irmã. Mais tarde, aos 16 anos, manifestou em família o desejo de Consagrar-se a Deus na Vida Religiosa. Foi, também, por esta época que Lourdes viu duas Filhas do Amor Divino na Igreja em Palmeira das Missões, arrumando o altar. Logo disse: “É dessas que eu quero ser”.
Quando as Irmãs acompanharam o Padre na visita as Comunidades do interior, Lourdes teve oportunidade de conversar com uma delas. Depois de tudo acertado, Lourdes foi morar no Hospital de Caridade de Palmeira das Missões, onde moraram e trabalhavam as Filhas do Amor Divino, aguardando aí uma oportunidade para ir até o Convento em Cerro Largo, RS, onde chegou no dia 20 de janeiro de 1956, saindo de Palmeira das Missões as 8 horas da manhã e chegando em Cerro Largo,RS às 20 horas.
Nestes primeiros meses Lourdes escreveu muitas cartas à sua família, contando notícias suas e dando detalhes da nova vida que estava vivendo, dizendo-se sempre muito feliz.
Apenas no ano de 1962 teve a primeira oportunidade de passar 08 dias de férias em casa de seus familiares e até esta data escrevia à família com muita freqüência longas cartas.
Em 1956 Lourdes iniciou o Postulantado etapa preparatória ao Noviciado na Congregação. Iniciou o Noviciado no dia 02 de fevereiro de 1957 com 19 companheiras. Sua avó mandou o primeiro hábito religioso, mas sua família não pode comparecer à solenidade. Foi então que recebeu o nome de Irmã Adelaide. Fez sua Primeira Profissão Religiosa em 1959 e, em seguida, foi trabalhar na cozinha do Hospital em Rosário do Sul, RS, onde havia uma comunidade das Filhas do Amor Divino.
Em 1962 foi transferida para Uruguaiana, RS, onde, durante muitos anos realizou uma missão importante na Creche Nossa Senhora de Lourdes. Ali Irmã Adelaide se destacou no acolhimento carinhoso das crianças, de suas mães e dos benfeitores desta Entidade. Ela buscava recursos junto às famílias com melhores condições financeiras e junto ao poder público para a manutenção desta casa. Todas as crianças provinham de famílias pobres e suas mães precisavam trabalhar para sustentá-las. No ano de 1976 a Câmara Municipal de Vereadores desta cidade condecorou Irmã Adelaide com uma Medalha de Bronze, pelo mérito de serviços prestados à comunidade de Uruguaiana.
De 1972 a 1973 atuou num pequeno Hospital na cidade de Roque Gonzáles, RS e depois voltou a Uruguaiana. No ano de 1982 esteve em missão no Hospital da cidade de Rodeio Bonito, RS.

No dia 08 de setembro de 1963 Irmã Adelaide fez cirurgia do bócio. Nesta época ela também freqüentou um curso especial para a conclusão do Ginásio.
Em 1983 quando a presença das Filhas do Amor Divino foi solicitada na Diocese de Marabá, PA. Irmã Adelaide se prontificou para assumir esta missão como coordenadora de um pequeno grupo de Irmãs e com elas foi morar na Vila chamada Km 02, mais tarde cidade de Eldorado do Carajás, PA. Ali acolheu com o seu coração generoso as pessoas que a buscavam, especialmente mãe e crianças. Iniciou sua missão visitando as famílias, organizando com a comunidade os encontros de oração, as reuniões de mães, e realizou muitas outras atividades junto com o povo e as Irmãs.

No domingo, dia 14 de abril de 1985, pelas 15 horas Irmã Adelaide se encontrava na Rodoviária de Eldorado do Carajás, e enquanto aguardava o ônibus para retornar à Casa das Irmãs em Curionópolis, PA, conversava com o Delegado Sindical Arnaldo Delcídio Ferreira do STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá).

O sindicalista Arnaldo já havia recebido várias ameaças de morte e nesta hora sofreu um atentado à bala que perfurou o seu tórax e atingiu a Irmã Adelaide perfurando uma artéria do pescoço por onde jorrou todo o seu sangue o que à levou à morte instantânea. Arnaldo sobreviveu a este atentado, mas foi assassinado 07 anos mais tarde também em Eldorado do Carajás.

O sangue desta mártir, derramado em terras paraenses, veio unir-se ao sangue de tantos outros, que, a partir de Jesus Cristo já tombaram na luta pelo bem, para que o direito do pobre seja respeitado.

O corpo de Irmã Adelaide foi velado na Igreja Nossa Senhora das Graças, em Curionópolis, PA para onde o povo acorreu durante toda a noite do dia 14 e durante o dia 15 de abril de 1985. O povo expressava seus sentimentos com muita oração e mensagens, como as que seguem:
“Calaram a voz da Irmã Adelaide, mas não calarão a voz de Deus”.
“O assassinato de Irmã Adelaide torna visível a morte que o povo padece”.
“Sempre fiel ao Amor de Jesus, ela deu a vida pelos irmãos”.
“Não pensem que calarão a voz de Deus matando seus profetas”.
“Nunca morre que vive no coração dos vivos. Irmã Adelaide está viva em nossos corações”.

O sepultamento de Irmã Adelaide foi realizado na noite do dia 15 de abril de 1985, numa sepultura ao lado da Igreja Nossa Senhora das Graças, em Curionópolis, Pa e a partir do ano seguinte, sempre é realizada uma Celebração Especial chamada de Caminhada Irmã Adelaide, que iniciou com 300 pessoas e já atingiu 3.000 pessoas. Esta Caminhada é realizada sempre no sábado após a Páscoa iniciando na Igreja de Eldorado do Carajás, passando pelo local do martírio e indo até a sepultura, em Curionópolis, uma trajeto de cerca de 30 quilômetros. “O caminho transforma os caminhantes. Eldorado do Carajás a Curionópolis se tornou espaço de regeneração em que a cura interior dos que percorrem na fé o caminho é o modo de erguer a cabeça de um povo que não se cansa de procurar a paz”, diz Irmã Angelita Fernandes uma das Filhas do Amor Divino que esteve presente em todas as Caminhadas.

Ainda em 1985 Dom Alano Maria Pena, então Bispo de Marabá, em visita ao Papa João Paulo II, ouviu de SS. a seguinte frase: “Irmã Adelaide é mártir da justiça”.

Várias das Filhas do Amor Divino do norte encontraram sua referência Vocacional a partir do testemunho de Irmã Adelaide Molinari. Irmã Joselina Gomes da Silva Amaral diz: “A morte da Irmã Adelaide despertou em mim uma profunda experiência do Deus que quer vida plena para todas as pessoas... Decidi responder ao chamado de Deus me comprometendo no seguimento de Jesus Cristo como Filha do Amor Divino”. Irmã Joseana Pereira Carvalho, afirma: “ Iniciei minha CAMINHADA DE Formação na Congregação das Filhas do Amor Divino em 1990. Nos primeiros dois anos de formação morei em Curionópolis, Pa, local onde Irmã Adelaide está sepultada sob a tutela do povo. Para mim sempre foi significativa a presença das crianças bricando e rezando em torno do túmulo e muitas vezes desfolhando as plantas para colherem flores para enfeitá-lo, sem se importar com as repreensões das Irmãs. Sempre havia uma flor ou vela acesa no túmulo. Isto me marcou... Outra experiência relevante para a minha caminhada vocacional eram as orações que a Comunidade Religiosa fazia no túmulo uma vez por semana refletindo, rezando e bebendo na fonte martirial tendo presente o testemunho da Irmã Adelaide e de tantos outros mártires da América Latina. Estes momentos de contato com testemunhos radicais de tantos homens e mulheres inquietavam-me a responder SIM ao Deus da Vida...”

O autor do disparo da bala assassina foi preso alguns anos mais tarde, depois de um inquérito policial conturbado. Mais tarde foi considerado foragido da justiça durante alguns anos e foi finalmente julgado 20 anos após o acontecimento e absolvido por um júri popular marcado por várias irregularidades.

Mas o povo honra a sua memória. Locais públicos, como Escolas, Ruas e organizações populares receberam o seu nome. Monografias foram escritas. Hinos, poemas, acrósticos, paródias e outros textos foram elaborados. Enfim, ela fez e faz História. Merece menção e Avenida em que as Irmãs moraram em Eldorado do Carajás e que era denominada “Av. Major Curió” trocou de nome em 2009, para “Avenida Adelaide Molinari”. Em 2010, na Caminhada Jubilar houve outro fato inédito: Na Câmara de Vereadores de Eldorado do Carajás realizou-se uma Sessão Solene em homenagem da Irmã Adelaide e a Província, representada pela Irmã M. Rogéria Cadó, recebeu uma placa de Homenagem Póstuma.

No dia em que Irmã Adelaide foi vitimada ela rezou com o povo da Comunidade de Eldorado do Carajás a seguinte oração:

Escuta ó Pai, a nossa prece.
Teu Filho Jesus venceu a morte e continua vivo no meio das comunidades cristãs.
Que também nós possamos ser forte como Ele.
Que ninguém fuja da luta nem mesmo com ameaça de morte.
Que saibamos ficar atentos às necessidades da comunidade, e que, de hoje em diante, ninguém mais fique sofrendo desamparado.
Alimenta ó Pai, a nossa fé, para que não te neguemos em nossa ação.
Amém.

Irmã Lourdes Follmann

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